terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Guerra Colonial

22 de Novembro de 1972. Campo Militar de Santa Margarida !

Prontos para embarcar em autocarros de turismo fretados pelo exército, a caminho do aeroporto de Lisboa, para uma missão de serviço em Angola, está um Batalhão de Caçadores, composto por três companhias operacionais e uma de serviços!

Jovens, a maioria na casa dos 22 anos, estão em silêncio; o trajecto é percorrido num ambiente tenso e de grande apreensão, afinal o que se poderia considerar até então com alguma imaginação, um estágio de actividades físicas e manipulação de armas, em que nos fins de semana íamos ver a família, tomava agora um aspecto inevitávelmente mais grave. Íamos para a guerra, era impossível ignorar!

Chegados ao aeroporto, mais um desafio ás nossas emoções, as famílias que nos esperavam, também elas sofridas e depauperadas, também elas fazendo um esforço superior tal como nós para mostrar boa disposição, para sorrir, para nos dar ânimo, quando a vontade real era chorar, era desesperarem-se, era indignarem-se perante a injustiça duma guerra sem sentido !

Felizmente na altura, a consciência do que a guerra colonial representava e a quem servia, era enorme em todos os escalões. Fiquei estupefacto com a consciência demonstrada por soldados oriundos do interior do país, que dasabafavam que apenas iam defender os interesses de meia dúzia de pessoas. E como eles estavam certos.... ! esses desabafos deram origem a interessantíssimas conversas que foram muito úteis de como deveríamos encarar a nossa permanência em terras de Angola! Na altura toda a gente sabia que realmente um grupo de pessoas como Tenreiros, Mellos e Espírito Santos dominavam toda a actividade económica das chamadas "províncias ultramarinas". Nós éramos apenas a carne para canhão que eles necessitavam para manter os seus privilégios, as suas fortunas, ignorando-nos a nós e ás justas pretensões dos nacionalistas africanos que desejavam serem donos das suas terras e dos seus destinos !

Esta consciência generalizada, já era um bom pronúncio do que viria a seguir !!!

6 comentários:

Ana Camarra disse...

Pois uma experiência de peso essa que guardas.
Falta muito para contar nessa história da Guerra Colonial.

beijos

salvoconduto disse...

Ano e meio ano antes: cais de Alcantara outro batalhão de caçadores embarcava no navio Niassa, chegando a Nacala, norte de Moçambique um mês depois. O resto, mais do mesmo...
Regresso 29 meses depois, já com mata bicho, e umas quantas unidades a menos...

Cidadão do Mundo disse...

Caro amigo Salvoconduto;
É verdade, eu sei que anos antes, o transporte e as condições de estacionamento no terreno eram muito piores do que no meu tempo!
As despedidas no cais de Alcântara eram deprimentes e de uma carga emocional terrível.

Um grande abraço!

LuisPVLopes disse...

POR FAVOR!

É IMPRESCÍNDIVEL A VOSSA PRESENÇA NO CHEIRA-ME, ESSAS HISTÓRIAS QUE FORAM E SÃO BEM REAIS, FAZEM-NOS TANTA FALTA, GOSTARÍA TANTO DE QUE LÁ FOSSEM CONTADAS PARA QUE JOVENS E NÃO SÓ APRENDAM AQUILO QUE ESTES NOSSOS DESGOVERNANTES NÃO FAZEM.
POR FAVOR!... POR FAVOR!
A VERDADE DA GUERRA COLONIAL SÓ É VERDADE NA BOCA DE QUEM A VIVEU.
A DIVIDA DESTE PAÍS PARA CONVOSCO MEREÇE BEM A DENÚNCIA DE QUEM DURANTE 34 ANOS FOI ESQUECIDO PELA CORJA QUE NOS TEM GOVERNADO.
ACABARAM COM OS MILICIANOS, POIS ELES ERAM PERIGOSOS, É SILENCIÁ-LOS E ESPERAR QUE MORRAM, PARA ENTÃO A MENTIRA PODER SER VERDADE NOS MANUAIS ESCOLARES.
LEMBRAM ALJUBARROTA?!... ELES DISSERAM A MILHÕES DE CRIANÇAS QUE ERA UMA PROPORÇÃO DE 10 CASTELHANOS PARA CADA PORTUGUÊS, APENAS OMITIRAM O ENORME EXÉRCITO INGLÊS COMANDADO PELO DUQUE DE WELLINGTON, QUE FOI QUEM AFINAL ELIMINOU O EXÉRCITO CASTELHANO COM A FAMOSA TÁCTICA DO QUADRADO, ATÉ ISSO ELES ATRIBUÍRAM AOS POBRES PORTUGUESES, MAL NUTRIDOS E EM FARRAPOS.

POR ISSO PRECISAMOS DE VÓS

ABRAÇO

Ouss

Cidadão do Mundo disse...

OK ! Sensei, vou enviar-te um mail. O nosso amigo Salvoconduto deve ter também muitas coisas interessantes para contar !!

Abraço!

Zorze disse...

São experiências pesadas, mas, importantes para que não caiam no esquecimento.
Desde a infância que ouço histórias da Guerra através de um familiar e mais recentemente de um colega, ambos tiveram na Guiné.
Histórias de grande camaradagem, mas, outras verdadeiros horrores.

Abraço,
Zorze