Dia 25 de Abril de 1974, Roça de Café na periferia da cidade de Cabinda, onde a minha companhia de Caçadores estava estacionada.
Soubemos da notícia da revolta militar e deposição do regime fascista por volta das 9.00h da manhã,...a reacção foi esfuziante, oficiais, sargentos e praças, impulsionados por uma espontânea onda de incontida alegria, davam saltos e vivas ao MFA o Movimento de Capitães que possibilitou que uma ditadura de 48 anos de opressão, perseguição e isolamento, chegasse ao seu fim.
A partir dali, ávidos por notícias do desenrolar dos acontecimentos, estabeleceram-se pontes de diálogo até aí impensáveis de acontecerem. Alguns, mais politizados que outros, encarregavam-se da organização de foruns de discusão polìtica e passámos imediatamente a algumas acções em prol da população,...como por exemplo, a Alfabetização de jovens e adultos, trabalhadores da Roça onde estávamos instalados.
Específicamente, o meu quarto que dividia com outro camarada de armas, passou a centro de trabalho, onde se discutia sobre as notícias dos jornais que o meu pai passou a enviar-me para me manter informado do desenrolar dos acontecimento,...Avante, Bandeira Vermelha e também alguns livros, tudo material até então, proíbido, apreendido, confiscado, etc, etc..!
Nós estávamos na capital, Cabinda .....o norte de Cabinda era a zona mais operacional de Angola, onde o MPLA atacava o território desde a fronteira com o Congo Brazaville com mísseis terra-terra. Em Maio cerca de um mês depois da data da Revolução dos Cravos, surge o primeiro estremecimento,...vem uma ordem para fazermos a protecção a um MVL para o Norte de Cabinda, que eram feitos com blindados Chaimites, exactamente para resistirem aos ataques com mísseis.
Fizemos rápidamente várias reuniões e saiu a decisão unânime....ninguém da nossa Companhia saíria para fazer a protecção ao MVL.
A reacção não se fez esperar....toda a Companhia recebeu ordem de detenção e ninguém poderia sair do aquartelamento (Roça) até nova ordem.
Contudo, o nosso enclausuramento durou pouco mais de 15 dias, pois no enfiamento das actividades da FLEC, que entretanto recebia algumas abébias por parte do Governador Militar e Civil de Cabinda, Brigadeiro Themudo Barata, foi decretado o recolher obrigatório na cidade e assim fomos recrutados para participar das acções de patrulhamento noturno, e durante o dia revezavamo-nos no controle dos elementos da FLEC que faziam, além de comícios, alguns desmandos na cidade, empolgados com a presença do seu líder histórico, Ranque Frank que tinha chegado da Bélgica onde vivia e gozava da simpatia do Governador,..sabe-se lá porquê !!!!
A 15 de Agosto, recebemos ordem de marcha para Luanda e embarcámos em três Fragatas da Marinha de Guerra para um Dolce Far Niente na capital angolana, até há vinda definitiva em Novembro.
4 comentários:
Cidadão
Coisas que nunca se esquecem!
beijos
Cidadão,
Essas histórias são sempre muito importantes, principalmente, quando contadas na 1ª pessoa.
Abraço,
Zorze
P.S.: O Olivar e o CasadeGenteDoida são amigos, portanto, calma aí brother.
Vês como sabes fazer não esquecer, o espírito dos militares engajadados pelo regime fascista, nas 3 frentes de guerra injusta e fraticida. Afinal também eles almejavam de corpo e alma a paz.
VIVA O 25 DE ABRIL PARA SEMPRE, POIS JAMAIS O MATARÃO!
Ouss
ehrhrhrh
Com que então tambem andaste a matar turras????
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Já abri o estaminé
www.bivolta.blogspot.com
admitadores/as que apatrçam.
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